“Deviam curtir suas frustrações chupando dedo”, diz Sarney a opositores
Da Coluna do Sarney
Na
tarefa de fazer de São Luís uma capital dotada de instrumentos
urbanísticos modernos e prevendo a expansão da cidade – que importaria
na destruição do tesouro arquitetônico do antigo centro histórico, como
acontecera na abertura da atual Avenida Magalhães de Almeida e Rua do
Egito, com a derrubada de muitos quarteirões, ao tempo do Estado Novo –
idealizamos abrir asas, atravessando os rios Anil e Bacanga com a
construção das pontes do São Francisco e do Bacanga, que, depois,
transformou-se em barragem. Esta daria acesso ao Porto do Itaqui. Para
chegar-se a ele era preciso ir ao Anil, pegar a BR-135 e depois entrar
num caminho de carro de boi até onde hoje é o grande porto. A solução da
barragem tinha ainda o subproduto de fazer um lago que deveria ser uma
atração para os esportes náuticos e uma área nobre de embelezamento
dessa parte da cidade, então mangue e palafitas. Infelizmente os
governos futuros não deram andamento ao projeto.
Não
tínhamos recursos para enfrentar tão grandes obras, com um Estado que
encontrei abandonado e miserável. Graças à confiança que desfrutávamos,
conseguimos que a Itapoã, uma firma local do engenheiro dr. Eduardo
Torres Lopes, que foi peça-chave na construção, aceitasse o desafio de
fazê-la. Em 1970, vésperas de deixar o governo, São Luís se libertava
para sempre dos grilhões que a continham entre os dois rios. Do lado de
São Francisco não existia nada, senão algumas casas de palha. Hoje é uma
cidade de mais de 300.000 habitantes, com acesso fácil às praias e
áreas de lazer e divertimento. As novas habitações e habitantes passaram
a ter espaço e não precisavam mais derrubar os nossos belos e velhos
sobrados. Depois, veio a abertura das avenidas, a Lagoa da Jansen e a
revelação da beleza de nossa costa na Ilha Encantada dos Mirantes e
Azulejos.
A barragem do Bacanga foi
um sacrifício. Governador, eu visitava as obras quase diariamente e,
para torná-la irreversível, mandei abrir logo a estrada entre o Itaqui e
a beira da ria, e vim de teco-teco e pousei na estrada, para marcar o
início das obras. Tinha um grande problema: teríamos de fechar a obra na
data exata da maré mais baixa, a maré de sizígia. Todo o povo parou ali
nas escadarias do Hospital Tarquínio Lopes, onde hoje está a Capela de
São Pedro, para ver as grandes máquinas, tratores e caçambas,
moto-scrapers e caminhões carregando pedras até a maré chegar e não
poder passar. Na última hora um velho pequeno trator do Noventa (um
pequeno empreiteiro, mobilizado para aquele dia) quebrou bem no meio da
barragem onde as máquinas passavam. O que fazer? A maré continuava a
subir. Iria passar por cima da barragem, se não fechássemos o canal
central que iria ser vedado. Então, tomei a decisão: era melhor perder o
trator do que ficar com uma grande pedra e perder tudo o que tínhamos
feito. As moto-niveladoras arrastaram o tratorzinho do Noventa que está
até hoje e para sempre dentro da massa de pedra e piçarra daquela grande
obra.
Quando a barragem fechou, a
maré parou na beira das pedras que lançáramos. Foi aquele foguetório,
vivas, danças e alegria, a multidão ocupando os espaços e tendo a noção
de que ali começava uma nova história de progresso para o Maranhão, o
porto dentro da cidade. Construí a Escola de Engenharia naquele lugar,
num barracão grande instalamos o setor de receita da Secretaria da
Fazenda, a fiscalização da obra e o primeiro computador que chegava ao
Norte e Nordeste do Brasil, um Burroughs de pesquisa 1.200, que ocupava
uns cem metros quadrados e que tinha menos capacidade do que um laptop
de hoje, com o desenvolvimento da tecnologia. Era ainda o tempo das
fichas perfuradas, para serem lidas 0 e 1.
Essas
obras demandaram novas avenidas, a cidade liberta, abrindo asas além
dos rios. A ponte do Caratatiua já estava concluída e eu abria a Avenida
do Maranhão Novo, a Kennedy, a Avenida dos Franceses, criando uma nova
via de acesso ao Anil. E já estávamos abrindo e asfaltando a estrada
SãoLuís-Teresina.
Ponha sua cabeça a sonhar. Tire de São Luís essas obras e veja o que fica.
Pois
bem, tenho orgulho de ter participado dessa história e ter mudado a
mentalidade do Maranhão. Poucos sobrevivem desse tempo. Tínhamos 200 mil
habitantes. Hoje temos um milhão. Mas a cidade tinha de ser preparada
para o grande Estado que é o Maranhão.
Faltava atacar o problema de água e esgoto. Mas essa é outra história e no próximo domingo, se Deus quiser.
Os
que falam sem saber vão existir sempre, movidos pela inveja que deviam
guardar, e não denegrindo o Maranhão, mentindo dizendo que somos o
último Estado do Brasil, quando somos o 17º mais rico. Deviam curtir
suas frustrações chupando dedo.