OPERAÇÃO NUVEM NEGRA
JULLY CAMILO
A Polícia Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deflagraram, na manhã de ontem (6), a Operação Nuvem Negra, com o objetivo de desarticular um esquema criminoso de invasão cibernética em sistemas de controle florestal, que emitia documentos falsos. Foram cumpridos 50 mandados judiciais, sendo 21 de prisão preventiva, 22 de busca e apreensão, além de sete conduções coercitivas, nos estados do Maranhão, Pará e Goiás. A Justiça autorizou ainda o bloqueio de contas bancárias e suspensão da atividade econômica de mais de 200 empresas suspeitas de estarem envolvidas nos esquema fraudulento.
Segundo o delegado federal Felipe Soares, coordenador da operação, após a identificação de fraudes no sistema de controle florestal (Sisdof), pelo Ibama, a polícia passou a investigar a organização criminosa que tentava burlar o programa, a partir de transações reais, porém com a emissão de documentos falsos. “Estamos há um ano trabalhando nessas investigações. No Brasil, uma serraria só pode ter madeira em seu pátio se possuir o “crédito” no Sisdof, o que comprova a origem lícita da madeira até o seu destino final. A quadrilha invadia os computadores de outras empresas e furtavam os créditos para as firmas ilegais ou fantasmas, no intuito de conferir a aparência de legalidade as madeiras extraídas irregularmente de terras indígenas ou de unidades de conservação. As transações eram reais em decorrência da vulnerabilidade de algumas empresas usuárias do sistema de controle florestal, porém, os documentos confeccionados a partir daí era falsos. Eles serviam para “esquentar” a madeira e o carvão extraído ilicitamente, da Reserva Biológica do Gurupi e terras indígenas localizadas entre o Maranhão e Pará, como a Ti Awá, Caru, Alto Turiaçu e Alto Rio Guamá”, afirmou.
O coordenador de Operação e Fiscalização do Ibama, de Brasília, Roberto Cabral, relatou que com a fraude a organização criminosa criou um verdadeiro banco ilegal de créditos de madeira. Ele explicou que só em 2013 foram “esquentados” aproximadamente 500 mil metros cúbicos de madeira serrada, que teriam entrado no Maranhão e Pará, ou seja, o equivalente a 300 mil árvores extraídas de forma ilegal. “Seriam necessários 14 mil caminhões para transportar toda essa madeira em tora. De todas as empresas envolvidas, existem cinco no Maranhão que já são recorrentes, e já receberam de 2008 a 2013, pelo menos 63 autos de infração. Entre os suspeitos destacam-se grandes madeireiros da região de Centro do Guilherme, Governador Nunes Freire, Buriticupu, bem como cidades que circundam terras indígenas, além da Reserva Biológica do Gurupi. O Ibama bloqueou mais de 200 empresas beneficiadas pelo esquema e retirou os créditos indevidos de suas contas, passando a exigir a certificação digital obrigatória e limitou o fluxo de créditos contrários à lógica do mercado”, explicou.
De acordo com o delegado Felipe Soares, o nome da operação “Nuvem Negra” faz referência à oitava praga bíblica constante no Livro do Êxodo, que disse que a chegada de uma nuvem de gafanhotos que obscureceu e cobriu a terra, devastando, em pouco tempo, toda a vegetação. Os investigados pela PF responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de formação de organização criminosa; furto de madeira; falsidade ideológica; invasão de dispositivos informáticos; crimes ambientais; lavagem de ativos, dentre outros. O Ibama também continuará com as análises para apuração das infrações administrativas. Esta é a primeira operação realizada no país no combate ao credito virtual, onde participaram 140 policiais de vários departamentos e superintendências regionais dos mais diversos estados.